domingo, 29 de março de 2009

Por que cantar na celebração

Santo Agostinho afirmou, certa vez: "Se queres saber o que cremos, vem ouvir o que cantamos.

O mesmo santo nos diz que "Cantar é próprio de quem ama". E ainda: "Cantar é rezar duas vezes"

Estas três afirmações bastariam para fundamentar o porquê do nosso canto na liturgia. Cantamos porque amamos. Cantamos porque cremos. Cantamos porque o Senhor é a nossa Festa. A Liturgia é uma festa. E não há festa sem música. . Daí a importância do canto nas nossas celebrações. Não um canto qualquer, apenas como enfeite ou algo secundário, mas como parte integrante da celebração, por isso é um canto chamado litúrgico, ministerial, que está em função da Palavra e do Mistério celebrado, cujo centro é sempre Jesus Cristo, nossa Páscoa, isto é, sua vida, paixão, morte e ressurreição, à luz do qual vivemos também nossas mortes e ressurreições.

Destacamos, a seguir, algumas razões fortes, fundamentais, citadas em documentos da Igreja, sobre o motivo do nosso cantar, na comunidade celebrante, com a participação de toda a assembléia:

1. O canto é um dos meios mais eficazes e pedagógicos para a formação cristã e litúrgica, pessoal e da assembléia.

2. O canto é caminho para o encontro entre o homem e Deus. Tem força de transformação, porque toca as profundezas da alma, as fibras mais íntimas do nosso ser.

3. Cantar em comum produz união, cria sintonia , solidariedade e comunhão entre os participantes. Enquanto cantam as vozes, unem-se os corações, expressando a mesma fé, solidificando a fraternidade, aprofundando e celebrando o amor.

4. O canto nos ajuda a sair de nós mesmos, para irmos ao encontro do outro, fazendo-nos menos individualistas e mais comunitários. Deixamos o eu, para assumir o nós.

5. O canto é sinal e símbolo da polifonia da vida, onde somos tão diferentes, cada qual com seus dons, sua vocação e missão, mas todos unidos no mesmo coro, numa só voz, onde Deus é o nosso "Canto Firme", que nos sustenta e faz cantar.

6. Por isso é tão importante que toda a comunidade participe do canto e não apenas um pequeno grupo. Diz o documento da Igreja sobre a Música Sacra, que " Nada há de mais festivo e mais grato nas celebrações do que uma assembléia que, por inteiro, expresse sua fé e sua piedade através do canto."

7. A Liturgia sempre foi marcada pelo canto. Basta lembrar os Salmos, no Antigo Testamento. Jesus Cristo cantou os salmos, entoou hinos e aleluias com os apóstolos, sendo Ele mesmo o Cantor do Pai e nossa Música da vida. Também os primeiros cristãos sempre deram razão de sua esperança, através do canto que brota da vida, ora como grito e súplica, ora como louvor e ação de graças, ora como aclamação e aleluia. Deus é a fonte e a razão do nosso canto e do nosso louvor.

8. A música, pela suavidade da melodia, pela harmonia das vozes, pela força do ritmo e dos sons, expressa melhor o Mistério de Deus e as verdades da nossa fé. Uma coisa é falarmos, por exemplo, "Senhor, tende piedade de nós", mas bem outra é cantar uma melodia suplicante, expressando o pedido de perdão, pois no dizer do poeta, enquanto cantamos, pronunciando as palavras, o Espírito Santo semeia luz e graça nos corações.

9. "Poucas coisas são tão próprias para excitar a piedade nas almas e inflamá-las com o fogo do amor divino como o canto" (Santo Agostinho). E Santo Ambrósio, outro cantor e compositor de hinos religiosos, completa bem: "Na verdade, não vejo o que os fiéis podiam fazer de melhor, de mais útil, de mais santo, do que cantar", quando reunidos na igreja para celebrar o Senhor.

10. O importante Estudo da CNBB n.º 79 dá 4 razões fundamentais do nosso cantar na Celebração:

a) Razão teológica - celebrar a ação de Deus em nossa vida, como resposta generosa e confiante ao seu amor por nós.

b) Razão cristológica - celebrar o Mistério Pascal do Senhor Ressuscitado entre nós.

c) Razão pneumatológica - cantar no Espírito, pois não só cantamos para Deus, mas em Deus, no seu Espírito.

d) Razão eclesuiológica - cantar e celebrar em comunidade. A comunidade faz o cantar, e o cantar faz a comunidade. Cantemos, pois, a vida, a fé, o amor! Deus é a razão do nosso cantar, e é Ele mesmo o nosso CANTO!

Irmã Míria T. Kolling

Histórico do Movimento Carismático

A Renovação Carismática Católica (RCC) surgiu na Igreja no momento em que se começava a procurar caminhos para pôr em prática uma renovação eclesial desejada pelo Concílio Vaticano II.
Não se havia passado um ano sequer ao término do Concílio, quando, em outubro de 1966, começou a despontar o movimento religioso chamado agora "Renovação Carismática". Nesta circunstância, a Renovação aparece como um acontecimento pós-conciliar estreitamente vinculado ao próprio Concílio, em uma conjuntura histórica importante para a Igreja Católica.
"Um grupo de pessoas, membros de faculdades da Universidade de Duquesne, Pettisburgh, reuniam-se freqüentemente para momentos de oração fervorosa e para conversar sobre a vitalidade de sua vida de fé. Aqueles professores haviam se dedicado durante muitos anos ao serviço de Jesus Cristo, entregando-se a várias atividades apostólicas. Apesar disso, estavam sentindo que algo faltava em sua vida cristã pessoal. Ainda que não pudessem especificar o porquê, cada um reconhecia que havia certo vazio, falta de dinamismo, debilidade espiritual, em suas orações e atividades. Era como se a vida cristã dependesse demasiado de seus próprios esforços, como se avançassem sob seu próprio poder e motivados por sua própria vontade.
Conscientes de que a força da comunidade cristã primitiva estivera na vinda do Espírito Santo em Pentecostes, começaram a orar para que esse divino Espírito manifestasse neles Sua presença cheia de poder, em favor de sua própria vida espiritual e do trabalho apostólico. Dessa forma, os professores de Pittsburgh (EUA) começaram a pedir em oração que o Espírito Santo lhes concedesse uma renovação e que o vazio que seus esforços humanos haviam deixado fosse plenificado com a vida poderosa do Senhor ressuscitado. Cada dia rezavam uns pelos outros: "Vem, Espírito Santo!". A partir de 1967, houve uma explosão de manifestações de Deus na vida de muitos grupos que insistentemente pediam a renovação no Espírito Santo. Em diversos lugares do mundo se experimentou uma nova efusão do Espírito Santo.
O Presidente do Conselho da RCC afirmou que a história da Igreja mostra que esse fato está ligado a outros acontecimentos que propiciaram o surgimento do movimento carismático. Já em fins do século XIX, o papa Leão XIII escreveu uma Encíclica sobre a Pessoa do Espírito Santo, incomodado que ficou com a insistência de uma freira que lhe escrevia falando da pouca atenção que a Igreja dava ao Espírito Santo. Além de se preocupar em fazer a doutrina do Espírito Santo mais popular, escreveu também uma ladainha para a 3ª Pessoa da SS. Trindade e, no fim do século XIX, esse mesmo papa celebra uma Missa consagrando o século XX à Pessoa do Espírito Santo.
Neste século, o papa João XXIII manifesta sua vontade de que o Concílio Vaticano II fosse guiado pelo Espírito Santo. E, ao convocar o Concílio, o papa reza pedindo um novo Pentecostes para toda a Igreja. O Concílio então dá fundamentação para que mais adiante iniciasse a RCC. Termina em 1965 e, no ano seguinte, aquelas pessoas da Universidade de Duquesne começaram a questionar sua vida espiritual e seu apostolado, pedindo o mesmo que João XXIII.
"A Renovação no Espírito - comenta o Pe. Congar - não é somente uma moda. Seus frutos se percebem de imediato: trata-se de uma forte ação espiritual que transforma vidas. Não somente um "re-avivamento", mas uma verdadeira "renovação", um rejuvenescimento, um frescor, uma atualização de possibilidades novas que surgem da Igreja sempre e sempre nova".
No começo dos anos 70, alguns sacerdotes jesuítas, entre eles Pe. Eduardo Dougherty, S.J., Pe. Haroldo Rahm, S.J. e Pe. Sales, começaram a realizar retiros chamados de Experiência do Espírito Santo, mais tarde Experiências de Oração, que se espalharam por todo o Brasil. Realizavam Grupos de Oração, reuniões de planejamento e, à medida que isso acontecia, a RCC se expandia, surgindo, então, instâncias de coordenação, a princípio em Campinas, depois Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília. Portanto, foi a partir da Casa de Retiros de Campinas que a Renovação teve seu começo.
Simultaneamente outros padres e leigos, em diversos pontos, começaram também a experimentar um novo ardor na evangelização e nos trabalhos apostólicos. A RCC se espalhou no Brasil rapidamente, promovendo uma renovação na vida espiritual de muitos católicos atuantes e na de outros que retornaram renovados à Igreja. A Renovação atingiu os líderes já engajados em movimentos como Cursilhos, Encontros de Casais, Treinamento de Liderança Cristã (TLC) e gradativamente foi se ampliando como uma nova força de evangelização com identidade própria.
A RCC foi se organizando nas Paróquias, nas Dioceses e nos Estados, através das Equipes ou Núcleos de Serviço que se formavam com as pessoas que se comprometiam mais diretamente, tendo todo o seu trabalho orientado por uma Comissão Nacional. Depois de algum tempo, formou-se também o Conselho Nacional que é composto pelos Coordenadores Estaduais.
No início da década de 90, o Conselho Nacional da RCC detectou uma perda de identidade, um esfriamento na missão, uma quebra na unidade da RCC em muitos lugares do Brasil. Então, reunidos rezando e pedindo ao Senhor que mostrasse como solucionar este problema, gerador de uma anemia espiritual nas lideranças da RCC, esmorecimento nos trabalhos pastorais, separações, etc, muitas palavras foram colocadas por Deus como exortação, correção e reavivamento. Após muito discernir os "sinais dos tempos" e as palavras do Senhor (Ag. 1,5-9), surgiu o Projeto de Ação da RCC denominado "Ofensiva Nacional", nascendo as Secretarias para os respectivos serviços da RCC.
Atualmente a RCC está presente, de maneira organizada e realizando um trabalho pastoral, em 268 Dioceses do Brasil, chegando a evangelizar perto de 60.000 Grupos de Oração, com a participação de aproximadamente 8.000.000 pessoas. Ultimamente, Deus tem exortado a RCC à ousadia de avançar para conquistar a terra prometida. É este o empenho que se espera neste momento da RCC diante da necessidade da redescoberta por toda a Igreja do sentido novo da evangelização que é repleto de frutos do alto, à medida que se torna fruto de um Pentecostes pessoal.

Pe. Cleodon

Formação Araras Fevereiro 2009

Paz e bem!

Quero saudar vocês por serem os sobreviventes do Senhor e dizer tb que você´s foram os escolhidos do Senhor para esta missão. Quantos foram convidados e não vieram, mas peço a cada um de você´s que coloquem em suas orações nossos irmãzinhos, para que pela força do Espírito Santo se voltem para o Senhor.
Esta missão, eu não diria difícil, mas trabalhar com os artistas de Deus não é fácil porque cada um tem seu jeito, seu modo de ser. Gostaria nesse momento que você´s deixassem de ser por um instante o artista de Deus para ouvir o que o Senhor tem a nos dizer.
Esqueça um pouco a sua técnica não fique prestando atenção no músico que está tocando e se lance ao encontro do Senhor.
Queria ressaltar tb que a técnica é muito importante sim, mas que se você for um escolhido de Deus e eu creio que todos aqui foram, o Espírito Santo de Deus supri essa possível e talvez deficiência e até o final desse encontro você´s saberão discernir o porque.
Como bem sabemos o ministério das artes (...) é um serviço aos irmãos através dos dons e talentos que Deus nos deu.
A música sempre fez parte dos planos de Deus e podemos ver isso em várias passagens bíblicas onde os filhos do Senhor iam para as batalhas e na maioria das vezes quem estava a frente das batalhas eram justamente os músicos do Senhor tocando as trombetas e fazendo barulho, e venciam é claro, pois o Senhor estava sempre ao lado deles. E depois da batalha ganha eles louvavam e cantavam ao Senhor bendizendo seu nome.
O Senhor nos chama hoje a sermos diferentes, a fazermos coisas diferentes, a não termos medo de ser diferentes, a acreditarmos que tudo nós podemos se formos dóceis a ação do Espírito Santo.
Você já parou para se perguntar porque está no ministério das artes?!
Se você está no ministério das artes porque tem a plena convicção que foi o Senhor que lhe chamou, você permanecerá nele, com ele e enquanto for de sua vontade. (Jo 15, 1-8)
Agora se você está no ministério das artes porque sabe cantar, atuar, dançar ou tocar, você precisa rever seus conceitos meu irmão e mudar de atitude porque o seu ministério corre um sério risco de acabar.
Eu sinto muito dizer palavras um tanto quanto duras mas é uma realidade que nos assola. Quantos e quantos ministérios acham bonito estar a frente no grupo de oração, mas é só vir a primeira tribulação e puf.... tudo se acaba, não suportam a tempestade, porque não tem oração individual e/ou nem coletiva e falta muitas vezes coragem para dizer o sim sincero ao Senhor.
Nós precisamos ser ecos da voz do Senhor, mas para isso é preciso ouví-lo... como está o nosso momento de oração pessoal??

Um texto de Luiz Carvalho que diz assim:

“Precisamos buscar a imitação da humildade e obediência de Jesus, e isso somente é alcançado através de uma vida de oração diária, carismática e fecunda.
Esta vida de intimidade com Deus nos fará descobrir a cada dia o valor do nosso chamado e a seriedade de nossa missão que muitas vezes pedirá de nós renúncias e desprendimento para o bom testemunho de nossa vida nova em cristo Jesus.”

Abramos nossa Bíblie em Juízes 6, 1-7 e 11-14a

Diante dessa palavra o que mais me chama a atenção é a forma de como o anjo do Senhor aparece a Gedeão e o salda: “o Senhor está contigo valente guerreiro.”
Repare como o Senhor se apresenta a Gedeão. Ele não chega detonando o cara. Ele vem com uma palavra de positividade, alegremente. e é assim que o Senhor se apresenta a cada um de nós hoje. (...)
Se nós lermos a palavra, iremos ver que Gedeão era um simples camponês, mas o Senhor ao ouvir o clamor de seu povo escolheu justamente Gedeão para salvar o seu povo.
Para nós, aos nossos olhos Gedeão era a pessoa menos indicada para executar a obra do Senhor. Tanto é verdade que se nós lermos um pouco mais adiante ele começa questionar o Senhor. Ele começa a se justificar ao Senhor; como vou livrar eu Israel? Eu que sou da última tribo de manasses o menor da casa de meu pai, um camponês, um zé mané...
E o que o Senhor diz a ele: “vai com essa força que tens?”... E assim acontece tb com a gente quando somos convidados a fazer alguma coisa que foge do nosso poder. Pô cara você acredita ou não acredita no poder de Deus na sua vida?! O Senhor proclama uma palavra na sua vida e você insiste em enaltecer os seus defeitos, suas imperfeições, é óbvio que o Senhor sabe de tudo isso.
Mas ele tb conhece o seu coração e justamente por conhecer o seu coração é ele, o Senhor, que pode dizer se você é ou não é capaz de executar a sua obra. É ele que sabe fazer a melhor escolha.
Foi o Senhor quem nos deu o dom das artes. nós somos batizados no Espírito Santo. O Senhor confia em nós e nós temos que acreditar que somos capazes de realizar a sua obra. Porque nós temos o Espírito Santo de Deus que habita em nós.
É por isso que ele chama a cada um de nós de valente guerreiro. ainda que tenhamos alguma deficiência em cantar, dançar, tocar, atuar. O Senhor é quem nos capacita. Nós precisamos acreditar nessa força que vem do alto.
Nós precisamos fazer a diferença. mesmo que estejamos em 1,2, 3 sei lá quantos, mas precisamos sair da mesmisse. nós precisamos fazer algo diferente. o nosso lugar primordial é no g.o. é lá que vamos exercitar os dons e carismas que Deus nos deu. Mas tem muitos g.o. que se quer tem um ministério de música.
Esse g.o. está com muita dificuldade, como os servos que estão a frente vão levar a palavra de Deus no coração das pessoas?!!!
De repente você recebe um convite para ministrar a música num g.o. aí você diz ao coordenador do grupo: olha, o seu grupo é meio longe e eu preciso ver com o restante do ministério pra te dar uma resposta. pode ser???
Eu te pergunto: você não pode ir com o que tem? o que o Senhor vem nos dizer hoje?!!!!

“Vai com essa força que tens.”

A palavra de Deus é muito clara. Todos nós temos algo em comum que é evangelizar. Mas se procurarmos em nós mesmos uma força para sairmos evangelizando eu digo a você´s meus irmãos que não encontraremos essa força. Se você seguir um pouco mais adiante a leitura lá no versículo 34 você vai ver que o espírito do Senhor vai se apoderar, vai tomar conta de gedão. Deixando claro e óbvio que é somente pela força do Espírito Santo paráclito que habita em nós é que realizaremos a vontade do Senhor.
O Senhor através da comissão nacional pedir algo novo para nós. O que você faz pelo seu g.o. “ Ah! Eu faço o possível e o que posso pelo meu g.o.”
Não!!! O possível as outras pessoas, as pastorais, sem menosprezar, mas até os corais da igreja já estão fazendo.
O Senhor nos chama hoje a sermos diferentes, a fazermos coisas diferentes, a não termos medo de ser diferentes, a acreditarmos que tudo nós podemos se formos dóceis a ação do Espírito Santo.
Nós precisamos é fazer o impossível aos olhos humanos. Nós temos o Espírito Santo de Deus que haje em nós. Não podemos ter medo de ser diferentes, foi assim que tudo começou, a renovação carismática católica era um movimento diferente, fazia barulho, fazia algo impossível aos olhos humanos, arrastava multidões e é justamente voltar as origens o que o Senhor vem nos pedir hoje.
Se o seu irmão te deixou só no ministério ou de repente você está se vendo numa situação difícil, é justamente nessa ora que você tem que clamar o auxílio do Espírito Santo.

Precisamos ser entusiastas do Senhor, levar a alegria do Senhor as pessoas. Para que possa despertar nas pessoas a vontade de conhecer esse Deus alegre , que nos dá força e coragem para nossa caminhada meus irmãos.
Como você veio aqui hoje?
Deus te ama, ele não olha os seus defeitos e sim suas qualidades. Foi assim que o Senhor escolheu a Gedeão o Senhor olhou o coração dele, assim como o seu coração tb meu irmão, minha irmã. nós somos os escolhidos por Deus, somos a frente de batalha, devemos e temos a obrigação de tornar o nosso g.o. mais alegre, cativante, empolgante, carismático. Mesmo que estejamos em poucos, mesmos que você esteja só, mesmo que o seu ministério ou você não esteja bem. mesmo que você estaja passando por um momento de tribulação. Clame o Espírito Santo paráclito em nosso auxílio.

Alex Camargo

Soberba: a cultura do ego


'Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo'
A soberba é o pior de todos os pecados capitais. É o que levou os anjos maus a se rebelarem contra Deus e Adão e Eva à desobediência e ao pecado original. Alguém disse que o orgulho é tão enraizado em nós, por causa do pecado original, que “só morre meia hora depois do dono”. Por outro lado, por ser o oposto da soberba, a humildade é a grande virtude, a que mais caracterizou o próprio Jesus: “Manso e humilde de coração” (cf. Mt 11,29) e também marcou a vida da Virgem Maria: “A serva do Senhor” (cf. Lc 1, 38), assim como a de São José e de todos os santos da Igreja.
São Vicente de Paulo ensinava seus filhos que o demônio não pode nada contra uma alma humilde, uma vez que sendo ele soberbo, não sabe se defender contra a humildade. Por isso, com essa arma ele [maligno] foi vencido por Nosso Senhor Jesus Cristo, pela Santíssima Virgem Maria, pelo glorioso São José, São Miguel e os demais santos.
A soberba consiste na pessoa sentir-se como se fosse a “fonte” dos seus próprios bens materiais e espirituais. Acha-se cheia de si mesma e se esquece de que tudo vem de Deus e é dom do alto, como disse São Tiago: “Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes” (Tg 1,17).
O soberbo se esquece de que é uma simples criatura, que saiu do nada pelo amor e chamado de Deus, e que, portanto, d'Ele depende em tudo. Como disse Santa Catarina de Sena, ele “rouba a glória de Deus”, pois quer para si as homenagens e os aplausos que pertencem só ao Senhor. São Paulo lembra aos coríntios que: “Nossa capacidade vem de Deus” (II Cor 3,5). Aos romanos ele afirma: “Não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente modesto” (Rm 12,3). E “Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos” (Rm 12,16). Aos gálatas, o Apóstolo dos gentios declara: “Quem pensa ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gl 6, 3).
A soberba tem muitos filhos: o orgulho, a vaidade, a vanglória, a arrogância, a prepotência, a presunção, a autosuficiência, o amor-próprio, o exibicionismo, o egocentrismo, a egolatria, etc. Podemos dizer que ela é a “cultura do ego”. Você já reparou quantas vezes por dia dizemos a palavra “eu”? “Eu vou”, “Eu acho, “Eu penso que…”, “Mas eu prefiro…”, etc.. A luta do cristão é para que essa “força” puxe-o para Deus e não para o ego. Jesus, nosso Modelo, disse: “Não busco a minha glória” (Jo 8,50). São Paulo insistia no mesmo ponto: “É porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar os homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Deus” (Gl 1,10).
A soberba é o oposto da humildade; essa palavra vem de “húmus”, aquilo que se acha na terra, pó. O humilde é aquele que reconhece o seu “nada”, embora seja a mais bela obra de Deus sobre a terra, a glória d'Ele, como afirma santo Irineu no século II. São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja, no século V, disse que: “Toda a vitória do Salvador, dominando o demônio e o mundo, foi iniciada na humildade e consumada na humildade!”.
Adão e Eva, sendo criaturas, quiseram “ser como deuses” (cf. Gen 3,5); Jesus, sendo Deus, fez-se criatura. Da manjedoura à cruz do Calvário, toda a vida de Cristo foi vivida na humildade e na humilhação. Por isso, Ele afirmou que no Reino de Deus os últimos serão os primeiros e quem se exaltar será humilhado. Façamos como Santa Teresinha que procurava o último lugar…
Oração Diante das Tentações
Mãe querida, acolhe-me em teu regaço, cobre-me com teu manto protetor e, com esse doce carinho que tens por teus filhos afasta de mim as ciladas do inimigo, e intercede intensamente para impedir que suas astúcias me façam cair. A ti me confio e em tua intercessão espero. Amém.
Padre Luizinho
http://blog.cancaonova.com/padreluizinho/

A OBEDIÊNCIA E O MINISTÉRIO DE MÚSICA

“Sendo Ele de condição divina, não prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo. E sendo reconhecido exteriormente como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”. (Filip 2, 6-8)

Frei Raniero Catalamessa foi particularmente feliz e inspirado quando em seu livro sobre “Obediência”, diz que a “obediência cristã não está fundamentada em uma idéia, mas em um ato de obediência”.
Quando o assunto é obediência, logo ligamos nosso “sistema automático de defesa, desculpas e justificativas”, pois sabemos que esse é um dos nossos mais constantes e difíceis pecados que temos.
Na origem de toda obediência está uma, a de Cristo. Na origem de toda desobediência está a de Adão. O mal consistiu em desobedecer a Deus, e o bem em obedecer. Se levarmos em conta a nossa dificuldade em nos submetermos aos outros como algo totalmente pessoal e quase exclusivo, estaremos em muito dificultando nossa libertação desse mal. Precisamos compreender que a desobediência tem raízes profundas que remontam do pecado original, que vem como herança de nossos primeiros pais, adão e Eva. Porém essa consciência não deve nos levar à acomodação porque se é verdadeiro afirmar que Adão pecou na desobediência ao Senhor, muito maior é a verdade que Jesus Cristo, o novo Adão, no qual fomos regenerados e recriados na justiça, este foi completamente obediente e submisso à vontade do Pai.
Se a obediência de Adão gerou em nós uma inclinação ao Pecado da desobediência, a obediência perfeitíssima de Cristo Jesus capacitou-nos à sua imitação e convida-nos a superarmos nossa inclinação ao mal e abraçarmos a vivência do bem.
Jesus é o novo Adão, que foi fiel lá onde o primeiro sucumbiu à tentação. Se somos em Cristo novas criaturas, precisamos acreditar que o caminho que Ele trilhou é o mesmo que devemos trilhar, pois não somos mais que seguidores seus. Acredito que o primeiro passo para abraçarmos a obediência é desejarmos de todo coração nos assemelharmos a Jesus. O desejo de santidade certamente nos faz renunciar a direitos e por amor submeter nossa vontade à autoridade de outros. A obediência nasce de uma verdadeira conversão. Em toda história do povo de Deus tivemos homens eleitos que vão à frente, conduzindo para a vontade do Senhor. Nos nossos ministérios não pode ser diferente. Precisamos ter pessoas que sejam imparciais, atentas e dispostas a ouvir e cumprir a vontade divina.
A maioria dos problemas que temos visto no ministério de música, em relação à autoridade e submissão, decorre de uma falta de formação sobre o verdadeiro sentido da autoridade e também da virtude da obediência. Porém na grande maioria dos casos vemos pessoas que não estão dispostas a ceder, renunciar seus direitos ou comodidades por causa do bem comum e da igreja. Isso é totalmente inverso ao exemplo que Cristo nos deixou. “A obediência de Cristo, no cotidiano da vida escondida, inaugura já a obra de restabelecimento daquilo que a obediência de Adão havia destruído”.
Assim como lutamos contra vícios e pecados da língua, do orgulho, da impureza, precisamos lutar contra vícios do pecado da desobediência. Quando obedecemos, fazemos um bem às autoridades, à igreja e um grande bem a nós mesmos pois estamos nos assemelhando mais e mais a nosso Senhor Jesus Cristo. Obediência e humildade andam juntas, da mesma forma que orgulho e desobediência andam de mãos dadas. A escolha da desobediência e do mal é um abuso de liberdade à escravidão do pecado.
Através da oração diária, o Espírito Santo pode fazer esta obra de restabelecimento do desejo e da inclinação a uma vivência da obediência cristã. Mas veja, essa é uma obra do Espírito, se não for assim, perderemos a liberdade. Se obedecermos por medo de castigo, estamos escravizados. Se obedecemos para obtermos elogios das autoridades, já recebemos nossa recompensa. Porém, se obedecemos por amor a Jesus e à sua igreja, Ele mesmo nos dará a recompensa. Antes de ser um dever, a obediência é uma graça, liberta-nos de nós mesmos, faz-nos semelhantes Àquele que amamos e a quem servimos.

“Como os peixes nascidos na água não podem sobreviver senão na água, assim os cristãos nascidos pela obediência não podem viver espiritualmente senão pela obediência”.

Luiz Carvalho (Comunidade Recado)

Documentos Referente a Carta aos Artistas

(1) Dialogus de ludo globi, liv. II: Philosophisch-Theologische Schriften, III (Viena 1967), p. 332.
(2) As virtudes morais, particularmente a prudência, dão ao sujeito a possibilidade de agir de harmonia com o critério do bem e do mal moral: segundo recta ratio agibilium (o justo critério dos comportamentos). A arte, diversamente, é definida pela filosofia como recta ratio factibilium (o justo critério das realizações).
(3) Promethidion, Bogumil, vv. 185-186: Pisma wybrane, II (Varsóvia 1968), p. 216.
(4) A versão grega dos Setenta exprime claramente este aspecto, ao traduzir o termo hebraico t(o-)b (bom) por kalón (belo).
(5) Filebo, 65 A.
(6) JOÃO PAULO II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 80: AAS 91 (1999), 67.
(7) Este princípio pedagógico foi enunciado pela pena autorizada de S. Gregório Magno, numa carta, do ano 599, escrita ao Bispo Sereno de Marselha: « A pintura é usada nas igrejas, para que as pessoas analfabetas possam ler, pelo menos nas paredes, aquilo que não são capazes de ler nos livros » (Epistulæ, IX, 209: CCL 140A, 1714).
(8) Lodi di Dio Altissimo, vv. 7 e 10: Fonti francescane, n. 261 (Pádua 1982), p. 177.
(9) Legenda maior, IX, 1: Fonti francescane, n. 1162 (Pádua 1982), p. 911.
(10) Enkomia na celebração do Orthrós do Grande Sábado Santo.
(11) Homilia I, 2: PG 34, 451.
(12) « At nobis ars una fides et musica Christus » (Carmen 20, 31: CCL 203, 144).
(13) Cf. JOÃO PAULO II, Carta ap. Duodecimum sæculum (4 de Dezembro de 1987), 8-9: AAS 80 (1988), 247-249.
(14) A perspectiva invertida e outros escritos (Roma 1984), p. 63.
(15) Paradiso XXV, 1-2.
(16) Cf. JOÃO PAULO II, Homilia da Missa celebrada na conclusão dos restauros dos frescos de Miguel Ângelo na Capela Sistina (8 de Abril de 1994): L'Osservatore Romano (ed. port. de 16 de Abril de 1994), p. 7.
(17) Cf. AAS 56 (1964), 438-444.
(18) N. 62.
(19) Mensagem do Concílio aos artistas (8 de Dezembro de 1965): AAS 58 (1966), 13.
(20) Cf. n. 122.
(21) CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 62.
(22) A teologia no século XII (Milão 1992), p. 9.
(23) CONC. ECUM. VAT. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
(24) Hino de Vésperas, na Solenidade de Pentecostes.
(25) F. DOSTOEVSKIJ, O Idiota, parte III, cap. V (Milão 1998), p. 645.
(26) « Sero te amavi! Pulchritudo tam antiqua e tam nova, sero te amavi! » (Confessiones 10, 27: CCL 27, 251).
(27) Paradiso XXXI, 134-135.
(28) Ode à juventude, v. 69: Wybór poezji, I (Wroclaw 1986), p. 63.

A « Beleza » que salva

Já no limiar do terceiro milénio, desejo a todos vós, artistas caríssimos, que sejais abençoados, com particular intensidade, por essas inspirações criativas. A beleza, que transmitireis às gerações futuras, seja tal que avive nelas o assombro. Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude condigna.
De tal assombro poderá brotar aquele entusiasmo de que fala Norwid na poesia, a que me referi ao início. Os homens de hoje e de amanhã têm necessidade deste entusiasmo, para enfrentar e vencer os desafios cruciais que se prefiguram no horizonte. Com tal entusiasmo, a humanidade poderá, depois de cada extravio, levantar-se de novo e retomar o seu caminho. Precisamente neste sentido foi dito, com profunda intuição, que « a beleza salvará o mundo ».(25)
A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como S. Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: « Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! ».(26)
Que as vossas múltiplas sendas, artistas do mundo, possam conduzir todas àquele Oceano infinito de beleza, onde o assombro se converte em admiração, inebriamento, alegria inexprimível.
Sirva-vos de guia e inspiração o mistério de Cristo ressuscitado, em cuja contemplação se alegra a Igreja nestes dias.
Acompanhe-vos a Virgem Santa, a « toda bela », cuja efígie inumeráveis artistas delinearam e o grande Dante contempla nos esplendores do Paraíso como « beleza, que alegria era dos olhos de todos os outros santos ».(27)
« Eleva-se do caos o mundo do espírito »! A partir destas palavras, que Adam Mickiewicz escrevera numa hora de grande aflição para a pátria polaca,(28) formulo um voto para vós: que a vossa arte contribua para a consolidação duma beleza autêntica que, como revérbero do Espírito de Deus, transfigure a matéria, abrindo os ânimos ao sentido do eterno!

Com os meus votos mais cordiais!

Papa João Paulo II

Espírito Criador e inspiração artística

Na Igreja, ressoa muitas vezes esta invocação ao Espírito Santo: Veni, Creator Spiritus..., « Vinde, Espírito Criador, as nossas mentes visitai, enchei da vossa graça os corações que criastes ».(24)
Ao Espírito Santo, « o Sopro » (ruah), acena já o livro do Génesis: « A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas » (1,2). Existe grande afinidade lexical entre « sopro — expiração » e « inspiração ». O Espírito é o misterioso artista do universo. Na perspectiva do terceiro milénio, faço votos de que todos os artistas possam receber em abundância o dom daquelas inspirações criativas donde tem início toda a autêntica obra de arte.
Queridos artistas, como bem sabeis, são muitos os estímulos, interiores e exteriores, que podem inspirar o vosso talento. Toda a autêntica inspiração, porém, encerra em si qualquer frémito daquele « sopro » com que o Espírito Criador permeava, já desde o início, a obra da criação. Presidindo às misteriosas leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito Criador vem ao encontro do génio do homem e estimula a sua capacidade criativa. Abençoa-o com uma espécie de iluminação interior, que junta a indicação do bem à do belo, e acorda nele as energias da mente e do coração, tornando-o apto para conceber a ideia e dar-lhe forma na obra de arte. Fala-se então justamente, embora de forma analógica, de « momentos de graça », porque o ser humano tem a possibilidade de fazer uma certa experiência do Absoluto que o transcende.

Papa João Paulo II

Apelo aos artistas

Com esta Carta dirijo-me a vós, artistas do mundo inteiro, para vos confirmar a minha estima e contribuir para o restabelecimento duma cooperação mais profícua entre a arte e a Igreja. Convido-vos a descobrir a profundeza da dimensão espiritual e religiosa que sempre caracterizou a arte nas suas formas expressivas mais nobres. Nesta perspectiva, faço-vos um apelo a vós, artistas da palavra escrita e oral, do teatro e da música, das artes plásticas e das mais modernas tecnologias de comunicação. Este apelo dirijo-o de modo especial a vós, artistas cristãos: a cada um queria recordar que a aliança que sempre vigorou entre Evangelho e arte, independentemente das exigências funcionais, implica o convite a penetrar, pela intuição criativa, no mistério de Deus encarnado e contemporaneamente no mistério do homem.
Cada ser humano é, de certo modo, um desconhecido para si mesmo. Jesus Cristo não Se limita a manifestar Deus, mas « revela o homem a si mesmo ».(23) Em Cristo, Deus reconciliou consigo o mundo. Todos os crentes são chamados a dar testemunho disto; mas compete a vós, homens e mulheres que dedicastes a vossa vida à arte, afirmar com a riqueza da vossa genialidade que, em Cristo, o mundo está redimido: está redimido o homem, está redimido o corpo humano, está redimida a criação inteira, da qual S. Paulo escreveu que « aguarda ansiosa a revelação dos filhos de Deus » (Rm 8,19). Aguarda a revelação dos filhos de Deus, também através da arte e na arte. Esta é a vossa tarefa. Em contacto com as obras de arte, a humanidade de todos os tempos — também a de hoje — espera ser iluminada acerca do próprio caminho e destino.
Papa João Paulo II

A arte precisa da Igreja?

Portanto, a Igreja tem necessidade da arte. Pode-se dizer também que a arte precisa da Igreja? A pergunta pode parecer provocatória. Mas, se for compreendida no seu recto sentido, obedece a uma motivação legítima e profunda. Na realidade, o artista vive sempre à procura do sentido mais íntimo das coisas; toda a sua preocupação é conseguir exprimir o mundo do inefável. Como não ver então a grande fonte de inspiração que pode ser, para ele, esta espécie de pátria da alma que é a religião? Não é porventura no âmbito religioso que se colocam as questões pessoais mais importantes e se procuram as respostas existenciais definitivas?
De facto, o tema religioso é dos mais tratados pelos artistas de cada época. A Igreja tem feito sempre apelo às suas capacidades criativas, para interpretar a mensagem evangélica e a sua aplicação à vida concreta da comunidade cristã. Esta colaboração tem sido fonte de mútuo enriquecimento espiritual. Em última instância, dela tirou vantagem a compreensão do homem, da sua imagem autêntica, da sua verdade. Sobressaiu também o laço peculiar que existe entre a arte e a revelação cristã. Isto não quer dizer que o génio humano não tenha encontrado estímulos também noutros contextos religiosos; basta recordar a arte antiga, sobretudo grega e romana, e a arte ainda florescente das vetustas civilizações do Oriente. A verdade é que o cristianismo, em virtude do dogma central da encarnação do Verbo de Deus, oferece ao artista um horizonte particularmente rico de motivos de inspiração. Que grande empobrecimento seria para a arte o abandono desse manancial inexaurível que é o Evangelho!

Papa João Paulo II

A Igreja precisa da arte

Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De facto, deve tornar perceptível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve. E isto, sem privar a própria mensagem do seu valor transcendente e do seu halo de mistério.
A Igreja precisa particularmente de quem saiba realizar tudo isto no plano literário e figurativo, trabalhando com as infinitas possibilidades das imagens e suas valências simbólicas. O próprio Cristo utilizou amplamente as imagens na sua pregação, em plena coerência, aliás, com a opção que, pela Encarnação, fizera d'Ele mesmo o ícone do Deus invisível.
A Igreja tem igualmente necessidade dos músicos. Quantas composições sacras foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização. No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança da intervenção salvífica de Deus.
A Igreja precisa de arquitectos, porque tem necessidade de espaços onde congregar o povo cristão e celebrar os mistérios da salvação. Depois das terríveis destruições da última guerra mundial e com o crescimento das cidades, uma nova geração de arquitectos se amalgamou com as exigências do culto cristão, confirmando a capacidade de inspiração que possui o tema religioso relativamente também aos critérios arquitectónicos do nosso tempo. De facto, não raro se construíram templos, que são simultaneamente lugares de oração e autênticas obras de arte.

Papa João Paulo II

No espírito do Concílio Vaticano II

O Concílio Vaticano II lançou as bases para uma renovada relação entre a Igreja e a cultura, com reflexos imediatos no mundo da arte. Tal relação é proposta na base da amizade, da abertura e do diálogo. Na Constituição pastoral Gaudium et spes, os Padres Conciliares sublinharam a « grande importância » da literatura e das artes na vida do homem: « Elas procuram dar expressão à natureza do homem, aos seus problemas e à experiência das suas tentativas para conhecer-se e aperfeiçoar-se a si mesmo e ao mundo; e tentam identificar a sua situação na história e no universo, dar a conhecer as suas misérias e alegrias, necessidades e energias, e desvendar um futuro melhor ».(18)
Baseados nisto, os Padres, no final do Concílio, dirigiram aos artistas uma saudação e um apelo, nestes termos: « O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração ».(19) Neste mesmo espírito de profunda estima pela beleza, a Constituição sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum Concilium lembrou a histórica amizade da Igreja pela arte e, falando mais especificamente da arte sacra, « vértice » da arte religiosa, não hesitou em considerar como « nobre ministério » a actividade dos artistas, quando as suas obras são capazes de reflectir de algum modo a beleza infinita de Deus e orientar para Ele a mente dos homens.(20) Também através do seu contributo, « o conhecimento de Deus é mais perfeitamente manifestado e a pregação evangélica torna-se mais compreensível ao espírito dos homens ».(21) À luz disto, não surpreende a afirmação do Padre Marie-Dominique Chenu, segundo o qual o historiador da Teologia deixaria a sua obra incompleta, se não dedicasse a devida atenção às realizações artísticas, quer literárias quer plásticas, que a seu modo constituem « não só ilustrações estéticas, mas verdadeiros “lugares” teológicos ».(22)
Papa João Paulo II

A caminho dum renovado diálogo

Verdade é que, na Idade Moderna, ao lado deste humanismo cristão que continuou a produzir significativas expressões de cultura e de arte, foi-se progressivamente afirmando também uma forma de humanismo caracterizada pela ausência de Deus senão mesmo pela oposição a Ele. Este clima levou por vezes a uma certa separação entre o mundo da arte e o da fé, pelo menos no sentido de menor interesse de muitos artistas pelos temas religiosos.
Mas, vós sabeis que a Igreja continuou a nutrir grande apreço pelo valor da arte enquanto tal. De facto esta, mesmo fora das suas expressões mais tipicamente religiosas, mantém uma afinidade íntima com o mundo da fé, de modo que, até mesmo nas condições de maior separação entre a cultura e a Igreja, é precisamente a arte que continua a constituir uma espécie de ponte que leva à experiência religiosa. Enquanto busca do belo, fruto duma imaginação que voa mais acima do dia-a-dia, a arte é, por sua natureza, uma espécie de apelo ao Mistério. Mesmo quando perscruta as profundezas mais obscuras da alma ou os aspectos mais desconcertantes do mal, o artista torna-se de qualquer modo voz da esperança universal de redenção.
Compreende-se, assim, porque a Igreja está especialmente interessada no diálogo com a arte e quer que se realize na nossa época uma nova aliança com os artistas, como o dizia o meu venerando predecessor Paulo VI no seu discurso veemente aos artistas, durante um encontro especial na Capela Sistina a 7 de Maio de 1964.(17) A Igreja espera dessa colaboração uma renovada « epifania » de beleza para o nosso tempo e respostas adequadas às exigências próprias da comunidade cristã.

Papa João Paulo II

Humanismo e Renascimento

A feliz estação cultural, em que tem origem o florescimento artístico extraordinário do Humanismo e do Renascimento, apresenta também reflexos significativos do modo como os artistas desse período concebiam o tema religioso. Naturalmente as inspirações são tão variadas como os seus estilos, ou pelo menos como os mais importantes deles. Mas, não é minha intenção lembrar coisas que vós, artistas, bem conheceis. Dado que vos escrevo deste Palácio Apostólico, escrínio de obras-primas talvez único no mundo, quero antes fazer-me voz dos maiores artistas que por aqui disseminaram as riquezas do seu génio, permeado frequentemente de grande profundidade espiritual. Daqui fala Miguel Ângelo, que na Capela Sistina de algum modo compendiou, desde a Criação ao Juízo Universal, o drama e o mistério do mundo, retratando Deus Pai, Cristo Juiz, o homem no seu fatigante caminho desde as origens até ao fim da História. Daqui fala o génio delicado e profundo de Rafael, apontando, na variedade das suas pinturas e de modo especial na « Disputa » da Sala da Assinatura, o mistério da revelação de Deus Trinitário, que na Eucaristia Se faz companheiro do homem, e projecta luz sobre as questões e os anelos da inteligência humana. Daqui, da majestosa Basílica dedicada ao Príncipe dos Apóstolos, da colunata que sai dela como dois braços abertos para acolher a humanidade, falam ainda Bramante, Bernini, Borromini, Maderno, para citar apenas os maiores, oferecendo plasticamente o sentido do mistério que faz da Igreja uma comunidade universal, hospitaleira, mãe e companheira de viagem para todo o homem à procura de Deus.
A arte sacra encontrou, neste conjunto extraordinário, uma força expressiva excepcional, atingindo níveis de imorredoiro valor quer estético quer religioso. O que vai caracterizando cada vez mais tal arte, sob o impulso do Humanismo e do Renascimento e das sucessivas tendências da cultura e da ciência, é um crescente interesse pelo homem, pelo mundo, pela realidade histórica. Esta atenção, por si mesma, não é de modo algum um perigo para a fé cristã, centrada sobre o mistério da Encarnação e, portanto, sobre a valorização do homem por parte de Deus. Precisamente os maiores artistas acima mencionados no-lo demonstram. Bastaria pensar no modo como Miguel Ângelo exprime nas suas pinturas e esculturas, a beleza do corpo humano.(16)
Aliás, mesmo no novo clima dos últimos séculos quando parte da sociedade parece indiferente à fé, a arte religiosa não cessou de avançar. A constatação torna-se ainda mais palpável, se da vertente das artes figurativas se passa a considerar o grande desenvolvimento que, neste mesmo período de tempo, teve a música sacra, composta para as necessidades litúrgicas, ou apenas relacionada com temas religiosos. Sem contar tantos artistas que a ela se dedicaram amplamente (como não lembrar Pero Luís de Palestrina, Orlando de Lasso, Tomás Luís de Victoria?), é sabido que muitos dos grandes compositores — de Händel a Bach, de Mozart a Schubert, de Beethoven a Berlioz, de Listz a Verdi — nos ofereceram obras de altíssima inspiração também neste campo.

Papa João Paulo II

A Idade Média

Os séculos seguintes foram testemunhas dum grande desenvolvimento da arte cristã. No Oriente, continuou a florescer a arte dos ícones, vinculada a significativos cânones teológicos e estéticos e apoiada na convicção de que, em determinado sentido, o ícone é um sacramento: com efeito, de modo análogo ao que sucede nos sacramentos, ele torna presente o mistério da Encarnação nalgum dos seus aspectos. Por isso mesmo, a beleza dum ícone pode ser apreciada sobretudo no interior de um templo, com os candelabros que ardem e suscitam na penumbra infinitos reflexos de luz. A este respeito, escreve Pavel Florenskij: « Bárbaro, pesado, fútil à luz clara do dia, o ouro reanima-se com a luz trémula dum candelabro ou duma vela, que o faz cintilar aqui e ali com miríades de fulgores, fazendo pressentir outras luzes não terrestres que enchem o espaço celeste ».(14)
No Ocidente, são muito variadas as perspectivas e os pontos donde partem os artistas, dependendo também das convicções fundamentais presentes no ambiente cultural do respectivo tempo. O património artístico, que se foi acumulando ao longo dos séculos, conta um florescimento vastíssimo de obras sacras de alta inspiração, que deixam cheio de admiração mesmo o observador do nosso tempo. Em primeiro plano, situam-se as grandes construções do culto, onde a funcionalidade sempre se une ao génio artístico, e este último se deixa inspirar pelo sentido do belo e pela intuição do mistério. Nascem daí estilos bem conhecidos na História da Arte. A força e a simplicidade do românico, expressa nas catedrais ou nas abadias, vai-se desenvolvendo gradualmente nas ogivas e esplendores do gótico. Dentro destas formas, não existe só o génio dum artista, mas a alma dum povo. Nos jogos de luzes e sombras, nas formas ora massiças ora ogivadas, intervêm certamente considerações de técnica estrutural, mas também tensões próprias da experiência de Deus, mistério « tremendo » e « fascinante ». Como sintetizar em poucos traços, nas diversas expressões da arte, a força criativa dos longos séculos da Idade Média cristã? Uma cultura inteira, embora com as limitações humanas sempre presentes, impregnara-se de Evangelho, e onde o pensamento teológico realizava a Summa de S. Tomás, a arte das igrejas submetia a matéria à adoração do mistério, ao mesmo tempo que um poeta admirável como Dante Alighieri podia compor « o poema sagrado, para o qual concorreram céu e terra »,(15) como ele próprio classifica a Divina Comédia.

Papa João Paulo II

Os primórdios

A arte, que o cristianismo encontrou nos seus inícios, era o fruto maduro do mundo clássico, exprimia os seus cânones estéticos e, ao mesmo tempo, veiculava os seus valores. A fé impunha aos cristãos, tanto no campo da vida e do pensamento como no da arte, um discernimento que não permitia a aceitação automática deste património. Assim, a arte de inspiração cristã começou em surdina, ditada pela necessidade que os crentes tinham de elaborar sinais para exprimirem, com base na Escritura, os mistérios da fé e simultaneamente de arranjar um « código simbólico » para se reconhecerem e identificarem especialmente nos tempos difíceis das perseguições. Quem não recorda certos símbolos que foram os primeiros vestígios duma arte pictórica e plástica? O peixe, os pães, o pastor... Evocavam o mistério, tornando-se quase insensivelmente esboços de uma arte nova.
Quando, pelo édito de Constantino, foi concedido aos cristãos exprimirem-se com plena liberdade, a arte tornou-se um canal privilegiado de manifestação da fé. Por todo o lado, começaram a despontar majestosas basílicas, nas quais os cânones arquitectónicos do antigo paganismo eram assumidos sim, mas reajustados às exigências do novo culto. Como não recordar pelo menos a antiga Basílica de S. Pedro e a de S. João de Latrão, construídas pelo imperador Constantino? Ou, no âmbito dos esplendores da arte bizantina, a Haghia Sophía de Constantinopla querida por Justiniano?
Enquanto a arquitectura desenhava o espaço sagrado, a necessidade de contemplar o mistério e de o propor de modo imediato aos simples levou progressivamente às primeiras expressões da arte pictórica e escultural. Ao mesmo tempo surgiam os primeiros esboços de uma arte da palavra e do som; e se Agostinho incluía também, entre as temáticas da sua produção, um De musica, Hilário, Ambrósio, Prudêncio, Efrém da Síria, Gregório de Nazianzo, Paulino de Nola, para citar apenas alguns nomes, faziam-se promotores de poesia cristã, que atinge frequentemente um alto valor não só teológico mas também literário. A sua produção poética valorizava formas herdadas dos clássicos, mas bebia na linfa pura do Evangelho, como justamente sentenciava o Santo poeta de Nola: « A nossa única arte é a fé, e Cristo é o nosso canto ».(12) Algum tempo mais tarde, Gregório Magno, com a compilação do Antiphonarium, punha as premissas para o desenvolvimento orgânico daquela música sacra tão original, que ficou conhecida pelo nome dele. Com as suas inspiradas modulações, o Canto Gregoriano tornar-se-á, com o passar dos séculos, a expressão melódica típica da fé da Igreja durante a celebração litúrgica dos Mistérios Sagrados. Assim, o « belo » conjugava-se com o « verdadeiro », para que, também através dos caminhos da arte, os ânimos fossem arrebatados do sensível ao eterno.
Não faltaram momentos difíceis neste caminho. A propósito precisamente do tema da representação do mistério cristão, a antiguidade conheceu uma áspera controvérsia, que passou à história com o nome de « luta iconoclasta ». As imagens sagradas, já então difusas na devoção do povo de Deus, foram objecto de violenta contestação. O Concílio celebrado em Niceia no ano 787, que estabeleceu a legitimidade das imagens e do seu culto, foi um acontecimento histórico não só para a fé mas também para a própria cultura. O argumento decisivo a que recorreram os Bispos para debelar a controvérsia, foi o mistério da Encarnação: se o Filho de Deus entrou no mundo das realidades visíveis, lançando, pela sua humanidade, uma ponte entre o visível e o invisível, é possível pensar que analogamente uma representação do mistério pode ser usada, pela dinâmica própria do sinal, como evocação sensível do mistério. O ícone não é venerado por si mesmo, mas reenvia ao sujeito que representa.(13)

Papa João Paulo II

Entre Evangelho e arte, uma aliança profunda

Com efeito, toda a intuição artística autêntica ultrapassa o que os sentidos captam e, penetrando na realidade, esforça-se por interpretar o seu mistério escondido. Ela brota das profundidades da alma humana, lá onde a aspiração de dar um sentido à própria vida se une com a percepção fugaz da beleza e da unidade misteriosa das coisas. Uma experiência partilhada por todos os artistas é a da distância incolmável que existe entre a obra das suas mãos, mesmo quando bem sucedida, e a perfeição fulgurante da beleza vislumbrada no ardor do momento criativo: tudo o que conseguem exprimir naquilo que pintam, modelam, criam, não passa de um pálido reflexo daquele esplendor que brilhou por instantes diante dos olhos do seu espírito.
O crente não se maravilha disto: sabe que se debruçou por um instante sobre aquele abismo de luz que tem a sua fonte originária em Deus. Há porventura motivo para admiração, se o espírito fica de tal modo inebriado que não sabe exprimir-se senão por balbuciações? Ninguém mais do que o verdadeiro artista está pronto a reconhecer a sua limitação e fazer suas as palavras do apóstolo Paulo, segundo o qual Deus « não habita em santuários construídos pela mão do homem », pelo que « não devemos pensar que a Divindade seja semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem » (Act 17,24.29). Se já a realidade íntima das coisas se situa « para além » das capacidades de compreensão humana, quanto mais Deus nas profundezas do seu mistério insondável!
Já de natureza diversa é o conhecimento de fé: este supõe um encontro pessoal com Deus em Jesus Cristo. Mas também este conhecimento pode tirar proveito da intuição artística. Modelo eloquente duma contemplação estética que se sublima na fé são, por exemplo, as obras do Beato Fra Angélico. A este respeito, é igualmente significativa a lauda extasiada, que S. Francisco de Assis repete duas vezes na chartula, redigida depois de ter recebido os estigmas de Cristo no monte Alverne: « Vós sois beleza... Vós sois beleza! ».(8) S. Boaventura comenta: « Contemplava nas coisas belas o Belíssimo e, seguindo o rasto impresso nas criaturas, buscava por todo o lado o Dilecto ».(9)
Uma perspectiva semelhante aparece na espiritualidade oriental, quando Cristo é designado como « o Belíssimo de maior beleza que todos os mortais ».(10) Assim comenta Macário, o Grande, a beleza transfigurante e libertadora que irradia do Ressuscitado: « A alma que foi plenamente iluminada pela beleza inexprimível da glória luminosa do rosto de Cristo, fica cheia do Espírito Santo (...) é toda olhos, toda luz, toda rosto ».(11)
Toda a forma autêntica de arte é, a seu modo, um caminho de acesso à realidade mais profunda do homem e do mundo. E, como tal, constitui um meio muito válido de aproximação ao horizonte da fé, onde a existência humana encontra a sua plena interpretação. Por isso é que a plenitude evangélica da verdade não podia deixar de suscitar, logo desde os primórdios, o interesse dos artistas, sensíveis por natureza a todas as manifestações da beleza íntima da realidade.
Papa João Paulo II

A arte face ao mistério do Verbo encarnado

A Lei do Antigo Testamento contém uma proibição explícita de representar Deus invisível e inexprimível através duma « estátua esculpida ou fundida » (Dt 27,15), porque Ele transcende qualquer representação material: « Eu sou Aquele que sou » (Ex 3,14). No mistério da Encarnação, porém, o Filho de Deus tornou-Se visível em carne e osso: « Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher » (Gl 4,4). Deus fez-Se homem em Jesus Cristo, que Se tornou assim « o centro de referência para se poder compreender o enigma da existência humana, do mundo criado, e mesmo de Deus ».(6)
Esta manifestação fundamental do « Deus-Mistério » apresenta-se como estímulo e desafio para os cristãos, inclusive no plano da criação artística. E gerou-se um florescimento de beleza, cuja linfa proveio precisamente daqui, do mistério da Encarnação. De facto, quando Se fez homem, o Filho de Deus introduziu na história da humanidade toda a riqueza evangélica da verdade e do bem e, através dela, pôs a descoberto também uma nova dimensão da beleza: a mensagem evangélica está completamente cheia dela.
A Sagrada Escritura tornou-se, assim, uma espécie de « dicionário imenso » (P. Claudel) e de « atlas iconográfico » (M. Chagall), onde foram beber a cultura e a arte cristã. O próprio Antigo Testamento, interpretado à luz do Novo, revelou mananciais inexauríveis de inspiração. Desde as narrações da criação, do pecado, do dilúvio, do ciclo dos Patriarcas, dos acontecimentos do êxodo, passando por tantos outros episódios e personagens da História da Salvação, o texto bíblico atiçou a imaginação de pintores, poetas, músicos, autores de teatro e de cinema. Uma figura como a de Job, só para dar um exemplo, com a problemática pungente e sempre actual da dor, continua a suscitar conjuntamente interesse filosófico, literário e artístico. E que dizer então do Novo Testamento? Desde o Nascimento ao Gólgota, da Transfiguração à Ressurreição, dos milagres aos ensinamentos de Cristo, até chegar aos acontecimentos narrados nos Actos dos Apóstolos ou previstos no Apocalipse em chave escatológica, inúmeras vezes a palavra bíblica se fez imagem, música, poesia, evocando com a linguagem da arte o mistério do « Verbo feito carne ».
Tudo isto constitui, na história da cultura, um amplo capítulo de fé e de beleza. Dele tiraram proveito sobretudo os crentes para a sua experiência de oração e de vida. Para muitos deles, em tempos de escassa alfabetização, as expressões figurativas da Bíblia constituíram mesmo um meio concreto de catequização.(7) Mas para todos, crentes ou não, as realizações artísticas inspiradas na Sagrada Escritura permanecem um reflexo do mistério insondável que abraça e habita o mundo.

Papa João Paulo II

O artista e o bem comum

De facto, a sociedade tem necessidade de artistas, da mesma forma que precisa de cientistas, técnicos, trabalhadores, especialistas, testemunhas da fé, professores, pais e mães, que garantam o crescimento da pessoa e o progresso da comunidade, através daquela forma sublime de arte que é a « arte de educar ». No vasto panorama cultural de cada nação, os artistas têm o seu lugar específico. Precisamente enquanto obedecem ao seu génio artístico na realização de obras verdadeiramente válidas e belas, não só enriquecem o património cultural da nação e da humanidade inteira, mas prestam também um serviço social qualificado ao bem comum.
A vocação diferente de cada artista, ao mesmo tempo que determina o âmbito do seu serviço, indica também as tarefas que deve assumir, o trabalho duro a que tem de sujeitar-se, a responsabilidade que deve enfrentar. Um artista, consciente de tudo isto, sabe também que deve actuar sem deixar-se dominar pela busca duma glória efémera ou pela ânsia de uma popularidade fácil, e menos ainda pelo cálculo do possível ganho pessoal. Há, portanto, uma ética ou melhor uma « espiritualidade » do serviço artístico, que a seu modo contribui para a vida e o renascimento do povo. A isto mesmo parece querer aludir Cyprian Norwid, quando afirma: « A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir ».
Papa João Paulo II

A vocação artística ao serviço da beleza

Um conhecido poeta polaco, Cyprian Norwid, escreveu: « A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir ».(3)
O tema da beleza é qualificante, ao falar de arte. Esse tema apareceu já, quando sublinhei o olhar de complacência que Deus lançou sobre a criação. Ao pôr em relevo que tudo o que tinha criado era bom, Deus viu também que era belo.(4) A confrontação entre o bom e o belo gera sugestivas reflexões. Em certo sentido, a beleza é a expressão visível do bem, do mesmo modo que o bem é a condição metafísica da beleza. Justamente o entenderam os Gregos, quando, fundindo os dois conceitos, cunharam uma palavra que abraça a ambos: « kalokagathía », ou seja, « beleza-bondade ». A este respeito, escreve Platão: « A força do Bem refugiou-se na natureza do Belo ».(5)
Vivendo e agindo é que o homem estabelece a sua relação com o ser, a verdade e o bem. O artista vive numa relação peculiar com a beleza. Pode-se dizer, com profunda verdade, que a beleza é a vocação a que o Criador o chamou com o dom do « talento artístico ». E também este é, certamente, um talento que, na linha da parábola evangélica dos talentos (cf. Mt 25,14-30), se deve pôr a render.
Tocamos aqui um ponto essencial. Quem tiver notado em si mesmo esta espécie de centelha divina que é a vocação artística — de poeta, escritor, pintor, escultor, arquitecto, músico, actor... —, adverte ao mesmo tempo a obrigação de não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver para colocá-lo ao serviço do próximo e de toda a humanidade.

Papa João Paulo II

A vocação especial do artista

Nem todos são chamados a ser artistas, no sentido específico do termo. Mas, segundo a expressão do Génesis, todo o homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima.
É importante notar a distinção entre estas duas vertentes da actividade humana, mas também a sua conexão. A distinção é evidente. De facto, uma coisa é a predisposição pela qual o ser humano é autor dos próprios actos e responsável do seu valor moral, e outra a predisposição pela qual é artista, isto é, sabe agir segundo as exigências da arte, respeitando fielmente as suas regras específicas.(2) Assim, o artista é capaz de produzir objectos, mas isso de per si ainda não indica nada sobre as suas disposições morais. Neste caso, não se trata de plasmar-se a si mesmo, de formar a própria personalidade, mas apenas de fazer frutificar capacidades operativas, dando forma estética às ideias concebidas pela mente.
Mas, se a distinção é fundamental, importante é igualmente a conexão entre as duas predisposições: a moral e a artística. Ambas se condicionam de forma recíproca e profunda. De facto, o artista, quando modela uma obra, exprime-se de tal modo a si mesmo que o resultado constitui um reflexo singular do próprio ser, daquilo que ele é e de como o é. Isto aparece confirmado inúmeras vezes na história da humanidade. De facto, quando o artista plasma uma obra-prima, não dá vida apenas à sua obra, mas, por meio dela, de certo modo manifesta também a própria personalidade. Na arte, encontra uma dimensão nova e um canal estupendo de expressão para o seu crescimento espiritual. Através das obras realizadas, o artista fala e comunica com os outros. Por isso, a História da Arte não é apenas uma história de obras, mas também de homens. As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo original que eles oferecem à história da cultura.

Papa João Paulo II

O artista, imagem de Deus Criador

Ninguém melhor do que vós, artistas, construtores geniais de beleza, pode intuir algo daquele pathos com que Deus, na aurora da criação, contemplou a obra das suas mãos. Infinitas vezes se espelhou um relance daquele sentimento no olhar com que vós — como, aliás, os artistas de todos os tempos —, maravilhados com o arcano poder dos sons e das palavras, das cores e das formas, vos pusestes a admirar a obra nascida do vosso génio artístico, quase sentindo o eco daquele mistério da criação a que Deus, único criador de todas as coisas, de algum modo vos quis associar.
Pareceu-me, por isso, que não havia palavras mais apropriadas do que as do livro do Génesis para começar esta minha Carta para vós, a quem me sinto ligado por experiências dos meus tempos passados e que marcaram indelevelmente a minha vida. Ao escrever-vos, desejo dar continuidade àquele fecundo diálogo da Igreja com os artistas que, em dois mil anos de história, nunca se interrompeu e se prevê ainda rico de futuro no limiar do terceiro milénio.
Na realidade, não se trata de um diálogo ditado apenas por circunstâncias históricas ou motivos utilitários, mas radicado na própria essência tanto da experiência religiosa como da criação artística. A página inicial da Bíblia apresenta-nos Deus quase como o modelo exemplar de toda a pessoa que produz uma obra: no artífice, reflecte-se a sua imagem de Criador. Esta relação é claramente evidenciada na língua polaca, com a semelhança lexical das palavras stwórca (criador) e twórca (artífice).
Qual é a diferença entre « criador » e « artífice »? Quem cria dá o próprio ser, tira algo do nada — ex nihilo sui et subiecti, como se costuma dizer em latim — e isto, em sentido estrito, é um modo de proceder exclusivo do Omnipotente. O artífice, ao contrário, utiliza algo já existente, a que dá forma e significado. Este modo de agir é peculiar do homem enquanto imagem de Deus. Com efeito, depois de ter afirmado que Deus criou o homem e a mulher « à sua imagem » (cf. Gn 1,27), a Bíblia acrescenta que Ele confiou-lhes a tarefa de dominarem a terra (cf. Gn 1,28). Foi no último dia da criação (cf. Gn 1,28-31). Nos dias anteriores, como que marcando o ritmo da evolução cósmica, Javé tinha criado o universo. No final, criou o homem, o fruto mais nobre do seu projecto, a quem submeteu o mundo visível como um campo imenso onde exprimir a sua capacidade inventiva.
Por conseguinte, Deus chamou o homem à existência, dando-lhe a tarefa de ser artífice. Na « criação artística », mais do que em qualquer outra actividade, o homem revela-se como « imagem de Deus », e realiza aquela tarefa, em primeiro lugar plasmando a « matéria » estupenda da sua humanidade e depois exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador. Obviamente é uma participação, que deixa intacta a infinita distância entre o Criador e a criatura, como sublinhava o Cardeal Nicolau Cusano: « A arte criativa, que a alma tem a sorte de albergar, não se identifica com aquela arte por essência que é própria de Deus, mas constitui apenas comunicação e participação dela ».(1)
Por isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só assim é que ele pode compreender-se profundamente a si mesmo e à sua vocação e missão.

Papa João Paulo II

Ministério das Artes

Somos chamados à profissionalização da música sacra em busca de uma intimidade com o louvor, a fim de recuperar para Deus o espaço (Música) que lhe foi roubado. Recuperar filhos e filhas que foram aprisionados pelos encantos do mundo e pela música que não vem de Deus que muitas vezes fere profundamente o Coração de Jesus. Aproximar cada vez mais a música e o louvor daquilo que o Senhor um dia fez e pensou para Ele e para o seu povo.Buscamos espalhar, contagiar e incentivar as pessoas a um aperfeiçoamento dos seus ministérios Artísticos. Temos pressa em tocar, cantar, dançar e encenar bem; mas temos maior pressa e inquietação em sermos santos. E isto fará a diferença entre nós e os outros, nos livrando de cair na “arte pela arte”.
Luiz Carvalho (Comunidade Recado)

O Terço e a sua História

Chama-se terço (5 dezenas) porque é a terça parte do rosário (15 dezenas). Vejamos um pouco da história do rosário: segundo consta, o rosário teve suas origens na Irlanda, no século IX. Naquela época, os 150 salmos de Davi eram uma das formas mais usadas de oração entre os monges. Os leigos, não sabendo ler, contentavam-se em ouvir a recitação dos Salmos. Por volta do ano 800, começou a surgir o costume, entre os leigos, de recitarem 150 “Pai-nossos” (texto bíblico). No início os devotos usavam uma bolsa de couro com 150 pedrinhas para contar as vezes que repetiam a oração. Mais tarde começou a ser usado um cordão com 50 pedacinhos de madeira. É a origem do instrumento que chamamos de terço. Em 1072 São Pedro Damião menciona que já era costume, em sua época, recitar, em forma de diálogo, 50 vezes a saudação angélica (primeira parte da Ave-Maria). Durante o Sec. XIII apareceu o costume de se recitar 150 louvores a Maria (breves pensamentos lembrando as virtudes e glórias de Nossa Senhora). Neste período aparece a palavra rosarium que significa buquê de rosas. Por volta de 1365, Henrique Kalkar agrupou as 150 saudações angélicas em dezenas, intercalando um Pai-Nosso em cada grupo de 10 Ave-Marias. Desta data até 1470 foram feitas outras modificações. A partir de 1470, apareceram os dominicanos como os grandes propagadores desta forma simples de oração. A cada uma 150 Ave-Marias correspondia um pensamento bíblico. Por volta de 1500, teve origem a xilogravura. Como o analfabetismo continuava a imperar, usava-se reproduzir em madeira as cenas evangélicas para meditação. Usavam-se 15 cenas bíblicas correspondentes a cada dezena de Ave-Marias. Durante os séculos XVI e XVII generalizou-se o costume de se explicitarem apenas os 15 pensamentos relativos a cada dezena. Por volta de 1700, São Luiz de Montfort consagrou a forma de se ler um pensamento mais longo, narrando a cena Bíblica e sugerindo atitudes práticas a cada dezena de Ave-Marias. Convencionou-se chamar cada um destes pensamentos de “mistério”. É a forma mais conhecida hoje, o rosário com 15 mistérios. Hoje se reza mais o terço, os mistérios foram divididos em quatro partes, cada qual com 5 meditações: nascimento e infância de Jesus (mistérios da alegria), paixão e morte (mistérios dolorosos), ressurreição e ascensão (mistérios gloriosos). Ao celebrar 24 anos de pontificado, no dia 16/10/2002, o Papa João Paulo II assinou a carta apostólica Rosarium Virginis Mariae em que acrescenta, ao rosário, os cinco Mistérios da Luz, inspirados na vida pública de Jesus. O terço nos coloca diante da Santíssima Trindade e de Maria, e é também uma oração inspirada na Bíblia, como podemos observar: reza-se 5 vezes o Pai-Nosso (ensinado por Jesus) e 50 vezes a Ave-Maria (que contém a saudação do anjo e de Izabel a Maria). A oração central do terço é Jesus. No terço não se trata de repetição mecânica de palavras. O grande segredo do terço está na meditação dos mistérios de nossa redenção, vividos por Jesus e Maria. Os grandes Santos rezavam o terço. O Papa reza. A Igreja recomenda a todos. A Bíblia não se opõe em aspecto nenhum com relação ao terço, ainda mais sendo Jesus a oração central dele.

(Fonte: Wellington R. Costa - São Paulo - SP)

Paz e bem!

Desafio da Nova Evangelização

Qual será o anúncio da Missão a que somos chamados a executar?O anúncio do Evangelho, por dois mil anos, ofereceu à Europa e muitos outros paises a mais profunda possibilidade de transformação, enquanto influenciou suas culturas com a sua novidade. Hoje, porém, essa evangelização não pode ser considerada como conquista definitiva. Tantos cristãos identificam a fé com uma série de práticas devotas, mas não como plena adesão a Cristo. Outros foram colocados em crise pela difundida cultura secularizada e niilista e assumiram modelos éticos longe do Evangelho. O secularismo é o abandono da fé, da religião e da Igreja: uma vida sem Deus. O relativismo é o abandono das leis, dos mandamentos e da verdade: cada um decide como quer. Outros ainda são atraídos por experiências de espiritualidades que não têm raízes no húmus cristão. O próprio diálogo inter-religioso, que é um valor a ser cultivado convictamente, suscita, em muitos, dúvidas sobre a própria fé: por que crer à maneira cristã, e não à maneira dos muçulmanos ou dos budistas ou dos hinduístas? A 5ª Conferência dos Bispos da América Latina e Caribe, em Aparecida, apontou também, como desafio à evangelização, a iniqüidade social. Na Bíblia, o mistério da iniqüidade é o anti-Cristo, anti-reino, é o mal organizado, uma realidade diabólica. O continente latino americano tem o maior número de católicos e também a maior iniqüidade social. A globalização é um processo promotor de iniqüidades: criando estruturas que favorecem sistema econômico iníquo, onde a exploração dos mais pobres, a opressão e a exclusão geram o desprezo aos considerados descartáveis por não produzirem, pesados à previdência de saúde e aposentadoria. Põe-se hoje o problema de uma fé consciente, que nos faça crer e anunciar com força quanto recebemos da Palavra de Deus: “Ao nome de Jesus dobre-se todo joelho nos céus, na terra e nos abismos; e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor!” (Filipenses 2, 10-11). Ao início do terceiro milênio, João Paulo II convidou a Igreja para “partir de novo de Cristo” e indicou as linhas fundamentais de uma pastoral animada pela contemplação do Rosto de Cristo. Assim os bispos do Brasil apontaram o objetivo do plano de pastoral: Queremos ver Jesus, Caminho, Verdade e Vida, para sermos discípulos de Jesus e missionários do Evangelho. Bento XVI quis caracterizar o ano pastoral corrente como “Ano Paulino”, justamente quando transcorrem dois milênios de seu nascimento. “O apóstolo Paulo, figura excelsa e quase inimitável, mas de qualquer maneira estimulante, está diante de nós como exemplo de total dedicação ao Senhor e à sua Igreja, bem como de grande abertura à humanidade e às suas culturas. Portanto, é justo que lhe reservemos lugar especial, não só na nossa veneração, mas também no esforço de compreender aquilo que ele tem para nos dizer, a nós cristãos de hoje.” Qual será o anúncio da Missão a que somos chamados a executar? É o kerigma de Cristo nosso Deus e Salvador, morto e ressuscitado por nós. Pode ser sintetizado na Palavra de Deus escrita por João 3, 17: “Deus não mandou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo se salve por meio dele”. É oferta e não imposição de Deus para nossa aceitação. O gesto de amor espera resposta de amor à iniciativa de amor de Deus. No texto evangélico estão sintetizados os elementos que estruturam a nossa fé em Jesus. De um lado, nós o proclamamos Filho de Deus, “gerado, não criado, da mesma substância do Pai”; de outro lado, anunciamos que ele se fez homem para nossa salvação. O nome de Jesus significa “Deus salva”. Este anúncio vai ao coração das expectativas, esperanças do homem. Como não estar interessados na salvação? Muitas vezes, na verdade, contentamo-nos de referi-la a aspectos parciais de nossa esperança: a saúde, o trabalho, a economia, a família, o ambiente... A salvação trazida por Jesus não exclui a vida terrena, mas nos traz outras expectativas: o dom do infinito de que ele nos faz participantes da sua vida. O cristianismo é a notícia de que aquele infinito, ao qual aspira o coração humano, nos veio ao encontro com o rosto e o coração de Cristo, vivido e testemunhado pelos cristãos que se fizeram verdadeiros discípulos e enviados de Cristo.

Cardeal Geraldo Majella Agnelo